Queima é o primeiro festival de videoclipes de Curitiba.

Videoclipe é lugar de elucubração, de teste, de experimentação, do inimaginável, do novo, das possibilidades de outros mundos. A existência do festival, das exibições e da premiação visam encorajar a continuidade dessa produção de videoclipes

Além disso, será um espaço de encontro entre pessoas do audiovisual, da música e público geral, possibilitando trocas, contatos, aprendizados e parcerias.

Amor à Flor da Pele

Sentimento aquele que nos tira do chão, que transcende, que norteia ou desnorteia, que invade o peito, que doí uma dor doída e traz uma alegria ingente. Sentimento que faz sentir o corpo diferente, que faz sentir desnudo ou acobertado. Aquele que tira a gente do chão e traz de volta, que faz sonhar, que faz despertar.
Pode ser fraco, médio, potente ou um milhão de nuances entre eles. Sentimento aquele que faz rir, faz chorar, gritar, espernear, gemer, lamentar, sorrir, estremecer, arrepiar. Pode se dar pouco ou pode se dar por inteiro. Pode acolher ou ferir. Um fogo que queima por dentro, um mar que invade, o vento que passa em cataclismo, a raiz que desce nas profundezas da Terra


Amor. Amar, amar-se e ser amado. Esta mostra visa discorrer um pouco sobre amor, tal sentimento tão vasto e complexo, que permeia a essência de cada ser humano de uma forma ou de outra. Amor romântico, amor familiar, amizade, desejo carnal, atração sexual, vínculo visceral, amor próprio, amor pelo outro, por algo ou algum lugar, ou até mesmo lugar nenhum. Amor como fio condutor da alma e da vida. Uma delicadeza, um carinho, um clichê romântico, uma brutalidade e um não clichê romântico, um grito de amor próprio, um amor desiludido, um amor desconstruído ou construído, um amor racializado, um amor queer, um amor hétero. Nesta sessão, independente da técnica, forma e estética, exploraremos esse vasto espectro de amores e as sensações que esse sentimento nos provoca. Os videoclipes selecionados são verdadeiras expressões visuais do amor em sua forma mais pura e visceral.


Cada videoclipe busca capturar não apenas a essência do amor e suas nuances, mas também o seu impacto visual, mergulhando os espectadores em um mundo de emoções intensas e narrativas apaixonantes. Tal qual as outras mostras, o recorte curatorial buscou encontrar amores que reinventam lugares, criam novas imagens e transcendem suas potencialidades à flor da pele. Dentre a dureza da vida e a frieza da cidade convidamos o espectador a parar por um instante e ouvir a palavra do amor.

Larissa Monteiro

MOSTRA lgbtqiap+

Ter uma vivência dissidente é por muito tempo ter sua imagem negada, apagada, tolhida. As que fazem sua imagem se incorporar ao real, que fazem da arte meio para existência, queimam a retina do convencional. Atravessando uma fronteira sem retorno, nossos corpos estão aqui, fazendo o que bem entendem, amando, quebrando, construindo.
Nossos corpos não se importam com a sua opinião o, fazem festa do que sã o. Afinal, celebrar quem se é , é forma de resistência. Há um quê de apocalipse, de realmente fazer imagem do fim desse mundo tradicional, de destruí-lo através s da arte e aguardar o eco nas outras instâncias do real e a partir disso criar o nosso. Muitas das imagens sã o tão frescas, esses corpos com poder, entrando no campo do afeto. Claro que isso sempre existiu, mas finalmente existe um registro. Não se pode confiar nas imagens que querem fazer de nós.

Essa mostra está aqui como uma crítica à s imagens que ainda se impõem sobre nossos corpos. Poder amar, ser linda, é um direito inalienável. Lutamos diariamente, formamos comunidades, usamos o deboche como arma e celebramos o sucesso. Imaginar a vitória e retratá-la. Não precisamos mais da ode à s imagens que tanto amaldiçoaram nossos corpos. Pensando no videoclipe como possibilidade de fuga para a criação artística no contexto brasileiro, uma possibilidade de experimentação, de fazer com pouco e deixar fluir o que se sente, dar forma aos cantos que queremos que ecoem. A fuga do aprisionamento e a autodestruição já começou. Nosso ideal de apocalipse é fazer na terra o paraíso de nossos corpos.


Não só de guerra vive a dissidência. Podemos falar de amor, do amor aos nossos corpos e entre nó s. Somos belas e eles nã o chegaram nem perto. Navalha embaixo da língua. Corpas prontas para o combate. Guerreiras do afeto, insistimos em ser emocionadas, afetivas.
Acreditamos na ruí na, que dissolve a imposição da normalidade das imagens gastas, porque nossos corpos desafiam o real, travam o sistema. Não somos desejadas, mas seguimos, mais conscientes do que pensam. Criando novas imagens, mundos, realidades. O desejo nessa mostra se torna caminho de possibilidade.

YARAÇÁ

Mostra Independente

Pensar e apresentar uma mostra “independente” dentro de um festival “independente” de videoclipes é um exercício por si só tão desafiador quanto necessário. Necessário para destacar e valorizar a inventividade, a proposição e a força destes clipes que, mesmo frente às dificuldades inerentes à produção independente, se
colocam de pé e confrontam a realidade, colocando sua música e seu audiovisual no mundo.
Desafiador pela característica do cenário da produção artística brasileira. Afinal, o que poderia caracterizar uma produção independente dentro de um cenário audiovisual em que a grande maioria dos videoclipes é financiada pelas próprias artistas ou via métodos alternativos e independentes?


As perguntas surgem da proposição da mostra pela direção artística do QUEIMA e, para respondê-las, partimos para a seleção com o que tínhamos à mão e à vista. À mão, encontramos os valores de produção informados pela equipe dos clipes no formulário de inscrição no festival. À vista: o contato com a materialidade dos clipes que também revela aspectos particulares seja de produção ou de linguagem que nos instigam a pensar suas “independências”.Pequenas produções, realizadas com poucos recursos financeiros a partir das condições impostas à realização, em pequenas equipes, na “amizade” ou mesmo por 1 só pessoa, a partir de um contato direto com parceiros e vizinhanças conhecidas. Sozinhos de Queima dentro do quarto, compondo as imagens na mesa de edição ou juntos no meio da rua, cantando as músicas e cenas em locais públicos, os 12 clipes que encontramos na sessão nos surpreendem por seu potencial de criação, invenção e intervenção.


A independência dessas produções se revela em sua liberdade para trilhar caminhos alternativos, nos quais a criatividade e a concepção de imagens provocantes toma espaço frente à simples exposição das músicas. Os clipes aproveitam o potencial da linguagem e de seu meio, seja de circulação ou difusão, tão próximos do público e de impacto tão imediato, para se fazerem presentes no tempo e no espaço em som e imagem.
Esta Mostra reunida em 1 sessão com duração aproximada de 50 minutos é portanto dedicada a estas produções que usam de sua independência, partem das condições impostas à sua realização, para manifestar sua criatividade e liberdade.

Gabriel Borges

mostra retrospectiva

Com foco em videoclipes realizados antes dos anos 2000, a Mostra Retrospectiva convida a uma viagem no tempo revisitando um período efervescência de ideias e transformador na produção audiovisual brasileira. Essa seleção busca destacar videoclipes que trouxeram um olhar fresco e inovador, desafiando as convenções de sua época e deixando um legado duradouro para as gerações futuras.


Nos anos que antecederam o novo milênio, a cena musical e audiovisual brasileira estava em ebulição. Foi um período marcado por experimentações, onde diretores, músicos e artistas visuais exploraram as possibilidades do videoclipe como uma forma de arte autônoma, bebendo de referências cinematográficas em alguns casos, mas em outros construindo com liberdade o lugar do videoclipe na indústria. Em meio a um cenário tecnológico em rápida evolução, esses criadores conseguiram transcender as limitações de recursos e técnicas, entregando obras que ainda hoje nos surpreendem pela originalidade e impacto.
A curadoria foi guiada pela busca de videoclipes que se destacam desafiando normas pré estabelecidas, apresentando abordagens visuais e conceituais que romperam com as tradições e abriram caminho para novas possibilidades no campo audiovisual. Para além disso, é também um registro, uma maneira de trazer um conjunto de obras que discute temas importantes,mas que também celebra a própria feitura, trazendo narrativas potentes, colagens, montagem experimental e outros formatos de se contar e ilustrar uma ideia.
Estes videoclipes capturam a energia e a inventividade de uma época, oferecendo ao público contemporâneo uma janela para o espírito inovador que marcou a produção brasileira antes dos anos 2000, onde cada obra selecionada não apenas documenta um momento particular da história da música brasileira, mas também se afirma como uma obra de arte visual em seu próprio direito.


Esta sessão é um tributo àqueles que, com poucos recursos e muita criatividade, conseguiram expandir os limites do que se entendia por videoclipe, mostrando que é possível criar imagens poderosas e significativas, capazes de ressoar profundamente com o público e de permanecer relevantes ao longo do tempo.

Bea Gerolin